quarta-feira, 4 de junho de 2008

Watson Racista?

James Watson, aquele que junto com Francis Crick (e talvez mais gente) descreveu a estrutura de dupla hélice do DNA [artigo original em pdf], considerado um dos maiores cientistas do século afirmou no Sunday Times (14 de outubro de 2007) que era pessimista sobre o futuro da África porque todas as políticas sociais americanas eram baseadas no fato de que a inteligência deles (africanos) era igual à "nossa" (americana), enquanto todos os testes diziam que não. Ele disse também desejar que todos fossem iguais, mas argumentou que "pessoas que têm de lidar com empregados negros descobrem que isso não é verdade". Ele afirmou que não se deveria discriminar com base na cor da pele, porque "existem muitas pessoas de cor que são bastante talentosas, mas que não são encorajadas quando não obtêm sucesso no nível mais elementar."
Graças a isso (e a um histórico de afirmações controversas e muitas vezes mal interpretadas) ele caiu em desgraça e se aposentou em menos de duas semanas.

Em seu livro Avoiding Boring People (Evitando Pessoas Chatas, não lançado em português) acho que fica um pouco mais fácil entender a linha de raciocínio dele:
"A priori, não á uma razão forte para antecipar que as capacidades intelectuais de povos separados geograficamente tenham evoluído de modo idêntico. Nossa vontade de reservar poderes de raciocínio iguais como uma herança universal da humanidade não será suficiente para fazer com que isso seja verdade" (tradução livre)

Ou seja, pra mim faz sentido:
Eu nem sei o que é exatamente inteligência. Mas eu sei que ninguém é bom em tudo. Então devem existir formas de inteligência ou - como gostam de dizer os educadores - competências.
Eu duvido que isso seja determinado exclusivamente pelos genes ou pelo ambiente. Mas eu apostaria que existe um componente genético.
Assim sendo, eu interpreto que "a inteligência deles não é igual à nossa" é perfeitamente plausível. Não que a inteligência de um povo, raça, etnia ou qualquer que seja o nome que você goste de usar, seja inferior. Mas que pode muito bem ter existido (ou existir) pressão seletiva para determinadas competências relevantes específicas para a situação/ambiente local. E isso seria diferente para diversas regiões geográficas.

4 comentário(s):

Rodrigo R. Bammann disse...

Bom, esse post seu! Legal mesmo.
Interessantemente, eu acabei de ler um artigo que fala sobre racismo. Nele diz que muitos preconceitos que temos, nós nem sabemos que os temos. E também diz que para pessoas, em determinadas situações (stress, pressão social, etc), acabam não tendo esse controle de preconceito, dizendo coisas que implicam em racismo. Se não me engano, Krick tentou se desculpar, certo?
Agora, acho bem certo que existe um componente genético. Mas a humanidade, já há tempos, não tem mais barreiras genéticas. Será que essa diferença de tipos de inteligência ainda existe?
Para saber se você tem preconceito: https://implicit.harvard.edu/implicit

BioNerd disse...

Foi assim que ele pediu desculpas:

"Para aqueles que inferiram das minhas palavras que a África, como um continente, é de alguma forma geneticamente inferior, eu só posso pedir desculpas sem reservas. Não foi isso que eu quis dizer. Mais importante do meu ponto de vista, é que não existe base científica para tal crença."
(tradução de uma parte de http://tinyurl.com/4doz72)

Isso tudo pra mim não quer dizer nada.
O fato é que o que ele disse é verdade - dito de uma forma extremamente indelicada.
O engraçado é que se você for ver as críticas da Nature por exemplo, o problema foi a indelicadeza dele ao falar a esse respeito, não a essência das afirmações. Estranho né?

Fernando Fiorin disse...

Mas eu acho isso muito natural... ao lidar com cientistas vc percebe que muitos deles se afundam tanto em seus experimentos e teorias que esquecem o mais importante que é a questão de como aquilo que ele pesquisa afeta os outros ao seu redor. O arquétipo criado para o cientista na mídia existe por um motivo... todo mundo acha que o cientista é alguém estranho que se veste mal e tem um comportamento bizarro. E muitos cientistas agem exatamente assim, infelizmente.

BioNerd disse...

Essa pegou em mim! hahahaha
Bem, eu acho que é preciso se comunicar direito. Mas acho que mais importante que isso é a liberdade de expressão e de pesquisa.
Tem linhas de pesquisa morrendo porque "fazem as perguntas erradas" - e eu não estou falando de ética.